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A Graça Eficiente e a Predestinação dos Eleitos em Santo Tomás de Aquino

Por Alessandro Lima

“Como a Graça Eficiente atua na alma dos eleitos ordenando-os à salvação eterna segundo Santo Tomás?”

No meu mais recente livro “Enchiridion Tomista” [1] eu abordo a questão da Predestinação em Santo Tomás de Aquino segundo a Suma Teológica. Aqui responderei à pergunta acima de forma mais sucinta.

A doutrina da graça eficiente em Santo Tomás de Aquino é um dos pontos centrais da sua teologia da salvação e da sua compreensão do modo como Deus conduz infalivelmente os eleitos à salvação eterna. Para expor esta questão de maneira rigorosa, devemos partir dos fundamentos da metafísica tomista e da teologia da graça, conforme se encontram principalmente na Summa Theologiae, I-II e na Prima Pars.

1. Natureza da Graça Eficiente

Santo Tomás distingue duas espécies de graça:

  • Graça suficiente (gratia sufficiens): é a graça que dá poder para agir bem, mas que pode ser resistida.

  • Graça eficiente (gratia efficax): é a graça que efetivamente produz o ato bom, levando infalivelmente à ação e, no contexto salvífico, à perseverança final.

Na Iª-IIae, q. 112, a. 3, Santo Tomás afirma:

“Deus confere a graça segundo sua predestinação e eleição eterna; e como esta eleição é infalível, também a graça por ela ordenada é eficaz naqueles a quem é conferida.”

Isto quer dizer que a graça eficiente opera com certeza o efeito para o qual foi enviada: ela não apenas oferece a possibilidade de agir retamente, mas faz com que se aja de fato.

2. Modo de atuação da Graça Eficiente

A graça eficiente atua interiormente, movendo a vontade do homem sem violentá-la, pois Deus é a causa primeira de todo movimento, inclusive dos atos livres. Santo Tomás, no De Veritate, q. 22, a. 9, responde que Deus move a vontade de tal modo que esta permaneça livre:

“Deus opera em nós o querer e o fazer, não tirando a liberdade, mas causando-a.”

A graça eficiente, portanto, move a vontade de modo infalível, mas livre, realizando a salvação dos eleitos sem coação. Isso se dá porque Deus, sendo causa primeira, age nos atos humanos de modo mais íntimo do que a própria vontade do homem age sobre si mesma.

3. Ordem da Predestinação e Graça

Segundo a doutrina tomista, a predestinação precede logicamente a concessão da graça eficiente. Deus, desde toda a eternidade, predestina os eleitos e, por isso, dispõe os meios (as graças) que os conduzirão com certeza à salvação. Essa disposição inclui as graças eficazes que, no tempo, movem o eleito a cooperar com a vontade divina.

Santo Tomás expressa isso na Summa Theologiae, Iª, q. 23, a. 5:

“Deus, ao predestinar, não só estabelece o fim (a salvação), mas também os meios eficazes para que este fim seja alcançado.”

4. Graça Eficiente e Liberdade Humana

Não há contradição entre a eficácia da graça e a liberdade humana. Isso se deve à distinção entre causa primeira (Deus) e causas segundas (o homem). A graça eficiente, por ser divina, age infalivelmente, mas age nas causas segundas de modo que a liberdade do homem seja aperfeiçoada, não suprimida.

Como afirma o Doutor Angélico (STh Iª, q. 83, a. 1):

“A vontade humana é movida por Deus, mas de forma conveniente à sua natureza: isto é, de modo livre.”

Conclusão

A graça eficiente, segundo Santo Tomás de Aquino, atua na alma dos eleitos movendo-os interiormente com eficácia e suavidade, de tal modo que eles, por livre cooperação, realizam os atos que conduzem à salvação. Tal graça é fruto da predestinação divina e está ordenada infalivelmente ao fim último: a visão beatífica. Deus, sendo causa primeira, move a vontade sem anular sua liberdade, mas ordenando-a com eficácia ao bem supremo.

Notas

Lima, Alessandro. Enchidirion Tomista. Edições Veritatis Splendor, 2025. Brasília, DF.

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