Por Alessandro Lima
No último dia 08 de maio foi eleito o 267o. papa da Igreja Católica, o Santo Padre Papa Leão XIV.
Chegamos a exatamente uma semana de sua eleição e os católicos já estão se engalfinhando em discussões sobre os possíveis rumos que o atual papa dará à Igreja Católica. Uns dizem que o novo papa é progressista, outros aplicam-lhe o rótulo de conservador moderado. Aqueles agem com desconfiança e os últimos se dividem entre oferecer-lhe o benefício da dúvida ou olhar o seu pontificado com esperança.
É verdade que a retomada de algumas tradições litúrgicas por Leão XIV alegraram muitos corações (inclusive o meu). Cito alguns exemplos: a retomada das vestes tradicionais (Mozeta, uma capa curta sobre os ombros, tradicionalmente de veludo vermelho com forro de arminho; a estola papal, uma estola rica, com bordados dourados e ícones cristológicos;), a benção em latim, a liturgia cantada e em latim, etc. Contudo os acenos ao Vaticano II e à sinodalidade de Francisco já causam preocupação entre os tradicionalistas.
Um Papa Ortodoxo ou Heterodoxo?
Na filosofia tomista, os termos simpliciter e secundum quid (ou também secundum quid et simpliciter) são usados para fazer distinções importantes na análise lógica e metafísica, especialmente quando se fala de atribuições ou juízos que podem ser verdadeiros de maneira absoluta ou apenas sob certo aspecto.
O Papa Leão XIV seria um papa ortodoxo, no sentido estrito do termo, ou seja, um papa católico simpliciter (absolutamente, realmente) ou seria um papa católico secundum quid (segundo certos aspectos, mas liberal em outros)?
Ora, já existem aqueles que estão desenterrando o passado do atual Pontífice para traçarem o seu perfil. Não é objetivo aqui entrar em tais especulações. Contudo, é fato que alguns cardeais de ortodoxia duvidosa que chegaram ao pontificado tornaram-se papas muito ortodoxos. Citarei dois exemplos da nossa história recente: o Cardeal Giovanni Mastai-Ferretti eleito Papa Pio IX (16 de junho de 1846 até 7 de fevereiro de 1878) e o Cardeal Eugênio Pacelli eleito Pio XII (2 de março de 1939 até a sua morte em 1958).
Sobriedade e Esperança
Seja qual for o perfil do atual Pontífice, sabemos que não se dá um “cavalo-de-pau” na Igreja. Considerando que a maioria esmagadora dos cardeais e dos bispos atuais são heterodoxos, Leão XIV precisará de muito “jogo de cintura” para sanar os problemas internos se assim o desejar.
Muitos destes bispos já estão para se aposentar e então o Papa terá uma grande oportunidade de indicar novos que sejam menos heterodoxos no pior dos casos. Com seu exemplo recente poderá indicar como a Santa Missa deve ser celebrada. Acredito que uma restauração natural da Missa Tradicional passa pela celebração mais piedosa da Missa de Paulo VI. Alguns acham que isso poderia acomodar as consciências dos católicos para os problemas da reforma litúrgica. O fato é que a grande maioria dos católicos nem suspeitam de tais problemas, logo esta não é uma questão que lhes chega à consciência.
De qualquer modo, este pontificado terá a oportunidade de rever muitas decisões do pontificado de Francisco que escandalizaram até os católicos mais tíbios (Comunhão a casais de segunda união, bençãos a duplas homossexuais, a mudança no Novo Catecismo sobre a Pena de Morte, a simplificação perigosa do processo de nulidade matrimonial, permissão de meninas coroinhas, o abandono do latim nos documentos oficiais, a proibição prática da Missa Tradicional, o apoio a um falso conceito de sinodalidade e tantas outras coisas). Ou seja, voltar a Igreja ao que era ao final do pontificado de Bento XVI não é tarefa pouca.
Espero que Leão XIV tenha um longo e frutífero pontificado. Dificilmente será o papa da restauração tanto aguardado pelos tradicionalistas, mas pode ser o papa que prepare o caminho para ela.