Por Alessandro Lima
Introdução
Recentemente (05/09/2000), o Santo Padre o Papa João Paulo II em sua encíclica “Dominus Iesus”, declara que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo, e que os cristãos do mundo inteiro devem estar em comunhão com esta Igreja e que encorrem em grave erro em não reconhecerem a autoridade do Papa.
Muitos cristãos se negam a reconhecer a legitimidade do Magistério Papal, por se dizerem diretamente guiados pelo Espírito Santo. Deus sempre quis que os homens conhecessem a Verdade através de outros homens, para que assim haja amor entre eles. Prova disto é que ao nascermos somos confiados à nossa família, que nos dá educação e nos encaminha à escola, de onde também recebemos novas instruções; e não somos intruídos por meio de revelação divina.
É por este motivo que Deus sempre se utilizou de um Magistério para revelar ao homem a Verdade. Nos tempos mais antigos este Magistério era cumprido nas pessoas dos Juízes (Moisés, Josué, etc), Profetas (Isaías, Davi, etc). No tempo de Jesus era cumprido nas pessoas dos escribas e fariseus (cf. Mt 23,2-3). Nos tempos apostólicos era cumprido nas pessoas dos apóstolos (cf. At 16,4), e Pedro era o chefe de toda Igreja.
O objetivo deste artigo é demonstrar a legitimidade do Magistério Papal.
Provas da Sagrada Escritura
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16,18) – primeiramente Nosso Senhor Jesus Cristo modifica o nome de Simão para Pedro. Deus primeiramente modificou o nome de Abrão para Abraão, fazendo-o pai de muitas nações. Depois modifica o nome de Sarai para Sara, pois aquela que era estéril agora seria feliz, pois seria mãe de muitas nações. Jacó teve seu nome mudado para Israel, pois seria o Grande Patriarca do povo de Deus. Deus quando modificou o nome de alguém, o estava fazendo com um propósito muito bem definido. Aqui Jesus é o arquiteto que edifica e coloca a Simão como Sumo Pontífice da Igreja. Jesus aqui revela aos apóstolos que Sua vontade será manifestada na autoridade de Pedro, assim como no passado aconteceu na pessoa de Moisés.
“Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mt 16,19) – aqui Nosso Senhor confere a Pedro amplos poderes sobre a Igreja. Tudo o que Pedro ligar (permitir, definir) e desligar (proibir, condenar), deverá ser obdecido por toda família cristã, para que andem no caminho da Verdade, pois tudo isto também será simultaneamente ligado e desligado nos céus. O paralelo feito por Nosso Senhor entre a terra e os céus, é muito interessante, pois mostra que a Igreja fará a vontade de Deus, assim como é feita nos céus. O que é um cumprimento à oração de Cristo ao Pai: “que seja feita a Tua vontade assim na terra como nos céus”. Por este motivo as portas dos inferno não prevaleceram e nunca prevalecerão contra a Igreja. Notem que apesar de no seio da Igreja haverem surgido todo tipo de heresia, homens ruins terem sido Papas, os valores humanos terem se modificado constantemente, a doutrina da Igreja continuou a mesma nestes 2000 anos de cristianismo. O mesmo não aconteceu com as seitas protestantes em 500 anos de Reforma, pois, muitas aceitam a contracepção, o divórcio, e até mesmo o homosexualisto.
“Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu quando te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22, 31-33) – Nosso Senhor orou especialmente por Pedro, para que o seu Magistério (autoridade confiada a Pedro pelo próprio Cristo cf.Mt 16,18-19) fosse o reflexo fiel da vontade de Deus. A oração de Cristo não faria o menor sentido se Pedro não tivesse primazia entre os apóstolos. Podemos ainda confirmar a missão especial de Pedro, quando Cristo o pede que confirme seus irmãos. Confirmar é apoiar, é garantir é sustentar. Aqui Cristo confirma mais um vez que edificará a Igreja sobre a autoridade de Pedro (cf Mt 16,18).
“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?’ Respondeu-lhe ele: ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo.’ Disse-lhe Jesus: ‘Apascenta os meus cordeiros.'” (Jo 21,15) – Nosso Senhor pergunta a Pedro, se este o ama mais que os outros apóstolos. E por que Pedro deveria amar mais a Cristo do que os outros? Apesar de Pedro possuir a mesma missão dos outros apóstolos, foi inculbido de um trabalho mais excelente, que era cuidar do rebanho de Jesus. Cuidar como? Governando a Igreja mantendo a unidade da fé (cf Ef 4,5; At 2,36) e da Igreja (At 11,5-17), condenando (cf.At 8,14-24) ou confirmando doutrinas (cf. At 2,14-21), excomulgando (cf. At 5,2-11), confirmando os outros bispos (cf. Lc 22, 31-33; 1Pd 5,1). Pedro recebeu funções próprias do ato de “ligar” e “desligar”, que significa legislar sobre toda a Igreja. E Jesus confirma novamente o trabalho de Pedro quando diz a ele “Apascenta os meus cordeiros”. Jesus aproveita a oportunidade e confia toda a Igreja a Pedro por mais duas vezes (cf Jo 21,16-18). Estas palavras foram ditas na presença de todos os apóstolos, porém dirigidas somente a Pedro.
Provas da Sagrada Tradição
“Já que seria demasiado longo enumerar os sucessores dos Apóstolos em todas as comunidades, nos ocuparemos somente com uma destas: a maior e a mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo. Mostraremos que a tradição apostólica que ela guarda e a fé que ela comunicou aos homens chegaram até nós através da sucessão regular dos bispos, confundindo assim todos aqueles que querem procurar a verdade onde ela não pode ser encontrada. Com esta comunidade, de fato, dada a sua autoridade superior, é necessário que esteja de acordo toda comunidade, isto é, os fiéis do mundo inteiro; nela sempre foi conservada a tradição dos apóstolos. […] [Pedro e Paulo] confiaram a Lino o ministério do episcopado. […] A Lino sucedeu Anacleto. A seguir, Clemente; Clemente vira os apóstolos, conversara com eles e ainda tinha ouvido sua pregação. […] A Clemente sucedeu Evaristo, e a Evaristo, [sucedeu] Alexandre. Depois, em sexto lugar após os apóstolos, veio Xisto, e, a seguir, Telésforo. Depois, Higino, Pio e Aniceto. Sotero sucedeu Aniceto. Agora, Eleutero, em décimo-segundo lugar, possui a herança do episcopado após os apóstolos” (Ireneu de Lião, +202, Contra as Heresias III,3,2-3).
“Depois da ressurreição, diz o Senhor: ‘Apascenta as minhas ovelhas’. Assim o Senhor edifica sobre Pedro a Igreja e lhe confia as suas ovelhas para apascentá-las. Se bem que dê igual poder a todos os Apóstolos, constitui uma só cátedra e dispõe, por sua autoridade, a origem e o motivo da unidade. Por certo os demais Apóstolos eram como Pedro, mas o primado é dado a Pedro e a unidade da Igreja e da cátedra é assim demonstrada. Todos são pastores mas, como se vê, um só é o rebanho apascentado pelo consenso unânime de todos os Apóstolos. Julga conservar a fé aquele que não conserva esta unidade recomendada por Paulo? Confia estar na Igreja aquele que abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?” (Cipriano, +258, Sobre a Unidade da Igreja cap. 4)
“[…]Se quando Cristo chamando edifício à assembleia dos que nele creem, promete que tomará Pedro como pedra fundamental (cf. Mt 16,18); se quando fala de pesca, o faz pescador de homens dizendo: de agora em diante serás pescador de homens (cf.Mt 4,19); quando chama os seus de rebanho, coloca Pedro à frente como Pastor, dizendo: Apascenta meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Pedro, porém, mais duas vezes interrogado por Cristo se o ama, entristeceu-se pela repetição da pergunta, julgando que sua afirmação não merecia crédito. Mas convencido do seu amor por Cristo, não ignorando que esse amor era mais conhecido por Cristo do que por ele próprio, vence o impasse não somente confessando o seu amor, mas também anunciando que a pessoa amada por ele é o Deus de todas as coisas: Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo (Jo 21,17). Pois saber tudo é privilégio exclusivo do Deus de todas as coisas.
O Senhor, então, não apenas constituiu o autor de tal proclamação pastor, e pastor supremo de toda a sua Igreja, mas também lhe anuncia que seria cingido de tal força que permaneceria firme até à morte, e morte de cruz, apesar de não ter resistido outrora à pergunta e à afirmação de uma criada.” (Gregório Palamás, Homilia 28 – Comentário ao Evangelho de São João 21,15-19)
Conclusão
Todos estes testemunhos deixam bem claro que Jesus instituiu um governo visível para sua Igreja. Este Magistério legitimamente instituído deve ser respeitado por todos os cristãos. Quem o respeita, respeita o desejo de Cristo e quem se separa dele, se separa da Igreja de Cristo e da Verdade (cf. 1Tm 3,15). E quem se separa da Igreja, também se separa de Cristo, pois esta Igreja é o seu corpo místico, onde Cristo é a cabeça (cf Ef 1,20-23). Este governo episcopal permanece até os dias de hoje onde ele foi criado: na Igreja Católica Apostólica Romana.